segunda-feira, novembro 14, 2005

Um feriado bastante aguardado

eu ando dando muito valor aos fins de semana. são alguns pouquíssimos dias de descanso, mas que geralmente resolvem parte dos meus problemas. anseio pelo sábado e pelo domingo como uma criança que aguarda o relógio marcar 00:00 do dia 25 de dezembro para que possa, enfim, abrir seus presentes de Natal. imagine qual não foi minha excitação ao me dar conta de que este fim de semana seria melhor que os outros pelo fato de contar com um belíssimo feriado na terça-feira? sim, o dobro de dias para me esbaldar por aí!
mas o que aconteceu foi que a pilha descarregou logo na sexta-feira à noite. foi uma ótima noite, uma despedida digna. desfaleci. acordei no sábado já com 39.1 de febre, um princípio de conjuntivite e dores que mastigavam minhas pernas. alguém achou que eu merecia uma coisa dessas, talvez. não conseguia me manter em pé por mais do que alguns minutos. sem fome, sem motivação, sem ânimo. mal conseguia pensar. dormi quase que o dia inteiro, feito um mendigo de porre. não, não! antes eu fosse um mendigo de porre, nas ruas, com aquele sorriso despreocupado na boca quase sem dentes. pensando bem, eu não sei quem estava pior. eu, que tinha noção da minha situação, ou o mendigo, que empurra a vida com a barriga - vazia -, sem esperança alguma de mudança.
acordei no domingo já com algum apetite. sinais de que eu poderia estar melhorando. me toquei de que havia perdido um sábado inteirinho. bom, se serve de paliativo pra mim, pelo menos eu descansei horrores. bah, não posso continuar me enganando. achei que meu domingo fosse transcorrer da mesma maneira, mas ela veio aqui me ver! assistimos a um filme, comemos pizza, ganhei abraços e beijos. foi melhor do que muitos domingos sadios.
veja só, hoje já é segunda-feira e eu ainda não abandonei meu cativeiro. estou suando só de olhar pela janela. o sol me encara e parece dar uma risadinha. acho que ele tem algo a ver com essa conspiração. não nos damos muito bem, e isso está exposto na minha pele. que se dane. sempre preferi a lua. acho que hoje eu consigo vê-la do lado de fora da minha casa. me espere, prometo que hoje vou te encontrar!

(ouvindo 'minus the bear - this is what i know about being gigantic')

quarta-feira, outubro 19, 2005

(E)ra do (m)odismo (o)co

tenho a impressão de estar vivendo num mundinho fictício, plástico demais para mim. as pessoas fingem ser o que não são, fazem coisas que não querem, de fato. precisam chamar a atenção, precisam aparecer para o mundo. criam apelidos idiotas, modísticos, vazios. não possuem identidade. eu só enxergo uma massa uniforme, com pensamentos pequenos e falsas emoções. são figurinhas colecionáveis do Orkut, são modelos de gesso do Fotolog.
gostaria de poder jogar água e derreter esse frágil gesso. me incomoda tamanha vulgaridade, tamanha ingenuidade, infantilidade e necessidade de se fantasiar. são franjas, munhequeiras, caras, bocas e olhares tão ocos que me dão pena. simplesmente não me dizem nada! e chamam esta atitude de "emo"! bom, eu já estou exausto de tanto escrever sobre o assunto, mas é que me dá ânsia de vômito ver pessoas personificarem um estilo de música que eu gosto bastante (e tenho algum conhecimento sobre) de maneira triste. triste no pior sentido. me dá pena, e um certo asco também. pessoas miúdas, consumistas, modernistas e doentias. pessoas sem noção do ridículo, eu diria.
já li em alguns lugares que "emo é um estilo de vida", e os indivíduos que seguem este way-of-life DEVEM ser tristes, adorar estrelas, fazer carinha e voz de criança, conversar sobre coisas infantis, etc. puta que me pariu, é isso mesmo? as pessoas escolhem isso como normas a serem seguidas? por que elas não desligam um pouco a TV e param de ler Capricho para se dedicarem a livros mais interessantes? ou então param para pesquisar sobre o que se trata realmente a música emo? esquecer os chavões e clichês como "letras de amor" ou roupinhas de marca. esse pessoal tá precisando é de uns bons tragos e algumas fodas - com pessoas do sexo oposto, vale ressaltar. não que eu seja preconceituoso, pois não sou. só acho que o tal bi-sexualismo está em alta, e não vejo razões para isso. hoje em dia é legal ser uma menina de 14 anos que fica com outras meninas. hoje em dia é legal se rotular um "emoboy" e andar de mãos dadas com os amiguxos. o espírito rock n' roll está sendo substituído pelo espírito barbie underground, onde a imagem bate o áudio. porra, não dá pena?
sim, o mundo está de cabeça para baixo, forçando-me à saída de emergência. não me enquadro neste nicho negativamente quimérico, apocalíptico. rezo para que bons ventos varram as maquiagens e levem embora tudo o que há de superficial por aqui. eu preciso respirar um pouco.

sexta-feira, outubro 07, 2005

O dia dos renegados

alguém mais andou olhando pra cima nos últimos dois dias e se sentiu asfixiado? parece que um véu cinzento foi posto sobre a cidade com o intuito de acabar com seus moradores. acabar mesmo. não se sabe se vai chover agora, daqui há dois minutos, amanhã ou se já está chovendo mas ainda não te acertaram. eu gostaria de saber o que se passa lá em cima.
eu olho pra cima e sinto minha garganta inflar, como quem engole um angu gelado completamente contra sua vontade. eu, particularmente, detesto angu, e ele me traz más lembranças. eu lembro de um episódio ocorrido há uns 15 ou 16 anos atrás, quando minha mãe obrigava - sem êxito – a mim e à minha irmã a comer angu. lembro da cena com perfeição... os dois sentados no chão do meu quarto com um prato de angu na frente. sei que após algum tempo de insistência, minha mãe perdeu a paciência e enfiou a nossa cara no prato. hahaha, hoje eu me divirto muito com isso, mas na hora eu chorei demais. era angu até no cabelo.
é estranho como coisas que no momento são péssimas podem se tornar futuras anedotas. uma diarréia inconveniente no meio da rua é uma forte candidata a ser um chiste futuro! um tombo em lugar público, uma gafe com um desconhecido, uma saia justa, um pé-na-bunda. as coisas passam e as emoções são varridas. a maioria das emoções não é indelével. parece que cada uma delas tem um certo momento para aflorar, e um certo momento para desvanecer. elas pertencem a um certo nó dado pelo destino, se alguém acredita nisso.
eu gosto de pensar assim, que a vida da gente já está traçada em algum papelzinho de lembrete que alguém acima deste véu cinzento carrega no bolso. o problema é que esses papéis são relativamente pequenos, e quando ele já está todo rabiscado é preciso continuar escrevendo em um outro. mas são muitas pessoas para se cuidar, e eventualmente, algumas milhares são esquecidas de ser atualizadas diariamente. e somem, às vezes sem motivo aparente. caem sem tropeçar e se vão. não é por mal. todos nós esquecemos de coisas, importantes ou não. importante pra mim não quer dizer que seja importante pra você, etc. e quando o cara responsável pela atualização de nossas vidas se toca de que é realmente bastante esquecido, ele chora. chora mais por uns do que por outros. maldito dia de finados, em que o rapaz sempre é obrigado a lembrar dos renegados por ele.

(ouvindo 'rescue - flamingo minutes')

quinta-feira, setembro 08, 2005

São partes novas de um mesmo inteiro

um raio me rachou ao meio. metade corre, a outra se esconde. não que elas estejam brincando entre si. elas batalham em silêncio, independentes.
a metade que corre se cansa, mas não desiste. ela tem muita força de vontade e quer provar para si mesmo sua força. suor disperdiçado nas primeiras horas. continua correndo e vê resultados. se preocupa em esmerar. resultados ralos, não tão convincentes. mas ela é contumáz e continua sua tarefa com grande afinco. os resultados são os mesmos. chega uma hora que se sente extenuada, vê ir embora seu afã. neste exato momento, sua outra metade - a que se esconde - passa a seu lado. se esbarram e por alguns segundos se fundem. tornam-se um só, como no início. uma só mente tem de colocar em ordem milhares de pensamentos conturbados, de ambas as partes. caos interior. sim, dois raios podem cair no mesmo lugar, e o segundo me acerta assim que meus pensamentos se estabilizam. deve ter sido isso que o atraiu. as partes estão separadas mais uma vez.
uma corre, a outra se esconde. a que corre se pergunta por que deveria continuar a correr, e com isso pára. a que se esconde não vê mais motivos para se esconder, e assim vem para a luz. as partes se encaram, se entreolham e se entendem. é preciso correr e se esconder mais uma vez. sem pressa. uma parte anda, a outra dorme.
a que anda tenta mais uma vez, sem expectativas. desalentada, lânguida. mas assim obtém bons resultados. fica em dúvida. a parte que dorme ganhou mais forças. elas não sabem por quê. ora, estou chamando-as de "partes" agora, e não mais de "metades". se fundiram, e ao se dividirem, uma delas saiu mais forte. ela dorme, com mais forças. não sabe de seu novo poder. a que anda, apesar dos resultados positivos finalmente alcançados, chora em indagações. a parte que dorme, sonha.

(ouvindo 'your enemies friends - you are being videotaped')

terça-feira, setembro 06, 2005

A hora do basta... talvez

hoje eu vi a chuva. a chuva me viu também e não me poupou. subi no ônibus já encharcado e coloquei-me no meu lugar. comecei a observar a janela ao meu lado e lembrei do texto de uma amiga. ela conseguiu lembrar de uma coisa singelíssima, ingênua. uma espécie de símbolo da ternura infantil. eu voltei anos no tempo. estendi meu dedo para a direita e fiz um risco no vapor condensado na janela. sorri sozinho, como uma criança que acaba de encostar numa certa folha e a vê fechar-se sobre si. foquei minhas idéias em metáforas, como acontece frequentemente. o tempo corre, escorre, como a água na parte externa da janela. embaça, turva, esfria, esquenta. nos confunde. um risco amarelo cortou minha vida com alguns anos de atraso - não queiram entender. eu escrevo pra mim.
pois bem, eu falava sobre desânimo, cansaço e falta de consideração quando me ocorreu que talvez eu não precisasse enfrentar esse tipo de coisa. eu acho que estava me forçando a suportar isso tudo como uma verdade única e inexorável. fiz uma última tentativa e fui bem sucedido. acho que teria desistido frente a mais uma negação.
agora eu engasgo. eu hesito e volto a me questionar: há futuro nisso? a resposta ronda a ponta de minha língua, quase ganhando forças. eu balbucio um "não", breve, tímido, porém cheio de razão. eu levo tudo nas costas, sozinho. a paciência se exauriu. decidi não mais me iludir com uma noite maravilhosa. eu preciso de muito mais e não creio que ela esteja disposta a encarar essa tarefa. ah... enfim, algum tipo de atitude. ainda que incompleta.

(ouvindo 'sparta - wiretap scars') -> enquanto escrevia
(ouvindo 'garage fuzz - the morning walk') -> enquanto postava

quarta-feira, agosto 24, 2005

A vista daqui de cima

estou curado! tenho quase certeza disso (é difícil ter certeza das coisas). após quase 2 meses, o telefone tornou a tocar e puder ouvir a mesma voz que me aqueceu durante 2 anos. eu não gaguejei, eu não tremi. meu coração permaneceu tranqüilo. não sou de guardar rancores e julgo-me um ótimo ex-namorado - talvez até melhor do que propriamente "namorado". ela parecia distante, mas acabou ficando mais à vontade aos poucos. realmente fazia tempo que não nos falávamos de maneira amistosa. ainda guardo muito carinho por ela, ou pela pessoa que ela foi enquanto dividiu a vida comigo. hoje ela é uma outra garota, com outros hábitos e gostos. um pouco decepcionantes, mas isso fica a meu critério, apenas.
eu já sabia que ela estava namorando um garoto. não gosto dele. pode parecer dor de cotovelo de ex-namorado abandonado, mas não é! realmente nunca gostei desse cara, e por isso não desejei felicidades. ela não parece muito feliz também, e essa notícia, de alguma forma, me deixou relaxado. é um pensamento escroto, mas é bom quando finalmente você está por cima e vê quem te fez sofrer numa plataforma mais abaixo, com os olhos voltados para o céu. tentam encontrar explicações. não que ela esteja totalmente infeliz, não é isso. ela simplesmente criou um namoro onde não havia a menor necessidade de existir um. amigos, é isso que são. sem paixão. bom, não quero expor a vida da menina em miúdos.
foi ótimo conversar com ela durante uma hora e meia. é estranho contar pra menina que eu amei durante 2 anos os meus casos mais recentes. mais estranho é ela se interessar em saber. não gostou de saber, claro. eu também não gostaria. eu não quis contar muita coisa, apenas números e nomes. algumas situações. preferi não saber de nada. foi ela quem quis assim, um pra cada lado, então vamos tocar nossas vidas pra frente, sem nos preocupar. eu tenho planos, ela também deve ter alguns. e é isso.
devo estar realmente curado. ela mesma me deu a cura, incentivando-me, forçando-me a esquecê-la. e eu esqueci. num momento de raiva, disse-lhe que havia se tornado apenas um buraco em minha vida. é, mas eu tenho o coração mole e muita coisa pra viver ainda. tapei esse buraco com carinho, e apenas isso. deixo um "L" para correr atrás de outro. deixando rolar. há uma boa vista aqui em cima.

Fuga e redenção

trinquei os dentes e experimentei uma vez. tudo tremeu. hesitei em experimentar a segunda, mas o fiz. uma barra se partiu com um breve estalo. ninguém me notou. enchi-me de coragem, lacrimegei ao lembrar meus motivos e investi novamente contra a jaula de plástico. me vi do outro lado, livre, apenas com alguns arranhões. tornei a fitar a jaula e analisei o estrago que fiz. é, era necessário.
sem saber muito bem o que fazer em liberdade, decidi beber. o álcool nos ajuda a manchar lembranças, a turvar pensamentos inconvenientes. bebi demais a ponto de não conseguir pensar em mais nada. só em mim. já fazia algum tempo que não realizava tal proeza. me senti só, como realmente estava, mas era incapaz de perceber ou aceitar. tropecei em mim mesmo, me enxerguei dos pés à cabeça. não devia nada a ninguém.
de repente, beijei uma menina. não era ela. digo, não era ELA. foi tudo muito simples, muito casual. parecia estar tudo bem pra todo mundo. a resposta viria no dia seguinte.
como sempre, a resposta veio em código ("boys speak in rhythm and girls in code"). por alguns minutos, tive toda a certeza do mundo de que tinha jogado no lixo minhas chances com ELA. para mim, ela estava contaminada com a indiferença. do pouco que consegui decodificar de sua resposta, entendi que não estava. parece que se importou com o que aconteceu. agora eu sinto algo perto de um arrependimento. não é pleno porque realmente eu andava um pouco chateado com algumas suposições. a vida é feita de suposições. o whisky me convenceu de que eu estava certo, então fui em frente. eu não fiz nada com a intenção de esquecê-la, mas, talvez, com a intenção de me frear, de afastá-la um pouco da minha cabeça. não dá! eu não estou conseguindo. eu sou um fudido, fraco demais para lidar com essas peças que aquilo-que-os-românticos-e-perdedores-chamam-de-destino insiste em me pregar. e é sempre. me lembro de episódios absurdos. este é um deles. quando eu iria imaginar que seria possível? eu deveria crer um pouco mais em mim... e ela também. ou, quem sabe, deveríamos crer em nós?

quarta-feira, agosto 17, 2005

The rescue mission - status: very emergency

já voltei a dormir bem. deito na cama e logo consigo pregar os olhos e adormeço facilmente. fim da era da insônia que me açoitava durante as férias.
no entanto, o bom e velho amigo sono voltou com uma força tremenda. de manhã sinto-me um zumbi, com grandes olheiras e pouca vontade de fazer qualquer coisa. luto contra meu companheiro. não, ele andou me traindo, não posso aceitá-lo de volta assim, tão fácil. por mais que eu queira. ele quase me derrubou hoje, mas mostrei resistência. suportei por 4 horas seu assombro e aí, enfim, ele me conquistou. mas já estava em casa e não havia problema algum.
levantei e pude almoçar. isso pra mim é um luxo agora. somente às segundas e quartas eu consigo almoçar em casa, decentemente. cedo demais, mas ou é isso ou uma porcaria qualquer na rua. terminei o almoço e saí para Furnas. vim de carro, aproveitando que meu pai está viajando. a vantagem do ônibus é que, durante a viagem, eu geralmente faço uma faxina mental. observo as ruas, analiso o momento e penso muito. não penso muito, também. depende do dia. quando se está dirigindo não se pode pensar em muita coisa fora o trânsito. alguns malucos tacados na rua, como sempre, pondo em risco nossa paciência.
parece que meus dias estão passando em nós. parecem estar amarrados, formando um pequeno círculo. o que eu estou tentando dizer é que a minha rotina está sacal e tenho acordado todos os dias com a idéia fixa de que nada de novo irá acontecer. nada me surpreenderá, nada terá a capacidade de arrancar suspiros de mim. minha vida está estacionada e não vejo nenhuma saída para isso. acordar, tomar café, escovar os dentes, me arrumar, faculdade, pegar ônibus, estágio, encontrar meu pai, esperar, buscar o carro no estacionamento, trânsito, casa, rua com o cachorro, casa, banho, cama, acordar, tomar café, escovar os dentes... isso vai acabar comigo! não, eu preciso quebrar essa rotina. não consigo esperar até o fim de semana. alguém me resgate!!

terça-feira, agosto 16, 2005

Bom, na verdade...

"oi, e aí! tudo bom?". "tudo bem.".eu minto. nem sempre está tudo bem, mas imagina se eu começasse a dizer tudo o que anda me incomodando. "na verdade, não está tudo bem. sabe o que é? eu ando meio chateado com isso e isso e isso...". as pessoas perguntam se está tudo bem como se fosse um ponto no fim da frase. elas não querem nem saber o que há de errado. somos regidos pela pressa, pela fugacidade. nada perdura, nada é perene. talvez porque realmente nada foi feito para resistir. coisas duradouras costumam enjoar, perdem a graça e precisam ser repostas, substituídas. ou até mesmo esquecidas. as pessoas morrem, não é mesmo? real ou de maneira metafórica, todos acabamos sendo enterrados um belo dia.
eu não ando muito satisfeito com aquela história. não quero nem discorrer mais sobre o assunto. já disse que agora espero algo da parte dela. eu não me sinto à vontade para tornar a insistir. e não o farei tão cedo.
terminei o livro que estava lendo desde o começo das férias, se não me engano. gostei muito, assim como o outro livro do Pedro Juan Gutiérrez que já havia lido, "O Insaciável Homem-Aranha". "Trilogia" é mais completo, mais chocante. o Brasil parece o paraíso agora. não, não é esse tipo de visão que devo ter. devo me reter em Cuba. miséria, falta de esperança. seres tentando sobreviver como verdadeiros animais. fome, descrença. pensando melhor, não posso me dar ao luxo de dizer que "não está tudo bem".

(ouvindo 'codeseven - the rescue')

segunda-feira, agosto 15, 2005

Eu em stand-by

ela me contaminou com a indiferença. pelo menos eu deveria estar contaminado. é uma situação mais cômoda onde não existem expectativas nem esperança. se acontecer, legal. se não acontecer, não faz falta. eu tenho que me contaminar. pra mim faz falta. ela me elogia, me prende e me entorpece, mas não concretiza suas falas. não sei, sinceramente. devo ficar mais distante (ainda), se é que isso é possível. é, definitivamente ainda não estou contaminado.
isso vai contra toda a minha vontade. eu não quero carregar nas costas tudo sozinho. são duas bocas que se beijam, são duas mãos distintas que se tocam. não estou só. na verdade, estou. sinto-me perdido e encarcerado numa jaula de plástico. basta eu ter um pingo de força de vontade para destruí-la e me libertar, mas ao mesmo tempo eu tenho calma. eu espero. mas esperar cansa e é algo que eu detesto. esperar é deixar a vida ir embora sem perceber. eu percebo e por isso odeio esperar. é, estou quase metendo um pontapé nessas barras de plástico.
é difícil suportar esse tipo de situação quando ainda se está fraco. preciso de um tempo para respirar e ver se ela quer de fato dividir o mesmo ar comigo. depende só dela. eu já fiz minha parte. é como se sentir deixado de lado, em stand-by.

(ouvindo 'slow coming day - farewell to the familiar')

quinta-feira, agosto 11, 2005

Atrasos em minha vida

ainda me iludo sempre que chego sozinho ao hall de elevadores do bloco A de Furnas. acredito que conseguirei subir sozinho, mas é incrível como as pessoas brotam de todos os lados. hoje eu contei. em apenas 8 segundos já havia aparecido mais 5 pessoas além de mim no hall. eu trabalho no décimo primeiro andar de um prédio de dezesseis. é realmente muito chato ter que subir no elevador com a certeza de que 90% das pessoas que estão comigo saltarão em andares abaixo do meu. torna-se uma viagem. sem contar que o parar e abrir e fechar das portas do elevador dura algo em torno de 10 segundos. quando não se está fazendo nada, apenas esperando, 10 segundos parecem durar o tempo de uma missa.
eu apenas desisto. quando vi que o primeiro elevador havia chegado e todos os presentes corriam para ele, travei meus pés no chão e apenas observei. sabia que não demoraria muito e um outro chegaria ao térreo. e chegou. entrei absolutamente sozinho no elevador, mas vi que alguém já se aproximava. ok, eu divido meu transporte com mais uma pessoa, sem problemas. apenas mais uma! mas logo embarcaram mais três. comprovando minha teoria, uma delas saltou no quinto, duas no sétimo e a última no nono.
a espera é algo que me aturde. é jogar a vida fora. a não ser que esta espera seja acompanhada de alguma pessoa interessante, ou cerveja. ou um cigarro. algumas pessoas contam o tempo de espera baseando-se em quantos cigarros fumam durante tanto tempo. "ah, o ônibus nem demorou tanto. só fumei dois cigarros no ponto e ele chegou". já faz parte da rotina. eu canto. sempre cantarolo alguma música enquanto espero. batuco, pareço meio louco. já cansei de ver pessoas me contemplando. será que só eu canto sozinho na rua? acho muito pouco provável.
para passar o tempo aqui, sentado, sem ter muito o que fazer, resolvi dar uma folheada na revista Pilotis, da PUC. catei por lá hoje. uma bosta, como sempre. pessoas plásticas demais, todas iguais, posando para fotos com suas mãozinhas fazendo gestos estúpidos. caras e bocas estúpidas. ainda rola uma coluna onde um amigo meu escreve coisas bonitas e bem escritas. registros emocionais. deveria funcionar mais ou menos como isso aqui, mas ele enrola demais. muitas pessoas acham que escrever rebuscadamente é mais bonito, é mais sincero. uma pena. acabei me perdendo no texto dele com tantas palavras proparoxítonas e outras tantas terminadas em "mente" e "al". reli e entendi o que ele quis dizer, mas soou tão falso, superficial. não consegui remontar a situação que ele descreveu. não com tanta emoção. remontei como uma gravura, e não como um filme. tem horas que um "merda" cai bem melhor que um "droga", "oh não!". como tem poder essa palavra!
ah, esperar é um saco. e eu ainda tenho que ficar aqui pelo menos mais vinte minutos para cumprir as quatro horas diárias de estágio. dê-me licença. lá, lá, lá, lá...

(ouvindo 'broken social scene - you forgot it in people')

terça-feira, agosto 09, 2005

Introspecções

estou de volta à rotina. aulas de manhã e estágio à tarde. meu curso, que tomaria também minha noite, foi cancelado. não sei se devo comemorar ou ficar triste. eu tava querendo fazer esse curso. deixa pra próxima.
saí com pressa da faculdade mas consegui chegar cedo a Furnas. na verdade, passei antes no Spoleto pra almoçar. dei o tremendo azar de pegar uma coroa meio confusa na minha frente. ela não sabia exatamente o que pedir. enrolou demais. parecia que havia imposto a regra de não repetir um ingrediente sequer e assim ficou tentando lembrar do que mais gostava. o que mais ela poderia enfiar lá dentro para deixar seu espaguete mais saboroso. bah. eu sempre peço a mesma merda. e sempre exagero na pimenta.
almoçar sozinho pode ser bastante interessante. eu gosto muito de ter companhia no almoço também, até prefiro, mas às vezes precisamos fazer certas coisas sozinhos. não necessariamente "sozinhos", mas tendo apenas nossos pensamentos como acompanhantes. introspecções são sempre válidas, não importa por quanto tempo durem. fiz uma breve análise da minha vida no atual momento. acho que o saldo está positivo. prefiro achar que sim, até alguém me provar o contrário. e sempre tem um filho da puta que consegue provar. que ele fique mais um tempo entocado e não me aporrinhe.
tentei de todas as maneiras espantar o sono. em frente a esse computador, estático, me mordo de tédio. preciso inventar algum tipo de passatempo, porém, se a chefe me pega sem estar digitando qualquer besteira ou folheando quaisquer papéis, ela me agarra e me manda engraxar sapatos e lustrar móveis. metáforas, claro. bom, nem tanto assim. afinal, consegui permanecer com os olhos abertos. a cabeça longe. tive tarefas para executar e isso preencheu uma parte da minha tarde por aqui.
as noite estão livres, então. pelo menos, por enquanto. gostaria de ocupá-las. preciso esperar a certeza.

(ouvindo 'hot water music - no division')

segunda-feira, agosto 08, 2005

Fuçaram minha vida

estava fuçando a vida de uma amiga minha agora ha pouco. ela falava exatamente sobre fuçar a vida dos outros. coisa mais sem sentido. eu andei descobrindo coisas que não gostaria de ter descoberto justamente por essa vontade inexplicável de querer saber o que não se deve. deixa pra lá, melhor largar quieto num canto e deixar morrer. já morreu. não posso cair nessa tentação. ela que cuide da vida dela, e eu tenho que dar um jeito de arrumar a minha.
a verdade é que eu já sei como arrumá-la, mas não sei se irei conseguir. preciso de ajuda. preciso de tempo, coragem e paciência. e sorte. tudo se resume a isso. acho que já foi dado o início. o problema é que não podemos prever o que vem pela frente. essa estrada é muito esburacada, com curvas acentuadas. antes eu ainda tinha um obstáculo muito grande para driblar, mas a vida tratou de removê-lo do caminho. a vida realmente nos surpreende. esse obstáculo não poderia ser removido apenas com palavras.
sexta-feira poderia ter sido a noite perfeita. foi tudo assim até as 6 horas da manhã. voltei ao carro e haviam roubado meu rádio. não tive reação. entrei no carro e tentei realizar o que se passava. parei, olhei pra ela e não soube o que dizer. ela também não. de súbito, levantei, larguei um palavrão e abri a mala. o sangue fervendo. ainda estava lá. minha guitarra estava lá. aliviei. voltei ao carro e me lembrei do dia em que comprei o rádio. foi um presente de aniversário. eu gostava muito dele, mas de alguma forma eu sabia que não iria durar. essa cidade me sufoca. a vontade é ir embora e nunca mais voltar, mas minha vida é aqui, e é tarde para se fugir. eu fujo para essas linhas. tento fazer diariamente. e faço, mas não por escrito. a viagem de volta foi em silêncio, ensurdecedor e inquietante.
vou tentar não me esquentar mais com isso. já fiquei muito triste. tenho ainda mais motivos para não mais fuçar a vida dos outros. quando fuçam a minha, eu fico puto.

(ouvindo 'maritime - glass floor')

sexta-feira, agosto 05, 2005

Uma velha história

acordei meio zonzo hoje. atrasado. bebi muita cerveja na noite passada. estava pelo Leblon, com grandes amigos. ela passou na minha frente, mas não me viu. eu estava no bar, sentado. só a vi de costas e achei melhor não chamar. nem me aproximar. eu estava esperando ela retornar minha ligação e sabia que o faria. eu também sabia o que ela iria dizer.
estava cansada e não iria sair. eu precisava saber se isso era algum tipo de desculpa constante e se eu estava sendo inconveniente. precisava saber se era melhor deixar tudo de lado. ela me deu uma luz, enfim. disse que eu não estava sendo chato, e que eu poderia ligar quando quisesse. ótimo. andava pensando muito sobre essa situação e agora parece que terei algum sossego.
talvez todo aquele peso tenha verdadeiramente abandonado meu peito. mais parecia uma garra arranhando meu coração, fazendo aquele som rascante, agoniante e ensurdecedor. se toda aquela carga emocional ainda me habitasse, eu não conseguiria pensar em outra garota direito. mas bem, essa é uma velha história. de vez em quando alguns baús são abertos e redescobrimos sonhos há muito enterrados, empoeirados. sonhos esquecidos e soterrados por outras vontades, pensamentos, idades, beijos, lugares, etc. tudo tem o seu tempo, sua época para acontecer, e não é bom contrariar esta lei. acho que relacionamentos que tive há muito tempo atrás talvez dessem mais certo hoje em dia. o tempo é responsável por muita coisa, se não por todas elas. muitas coisas mudam com ele, mas outras são conservadas. ah, eu conservei essa vontade. eu nunca imaginei que fosse provável, nem possível. talvez eu tenha dado sorte. não podemos dar azar sempre.

quinta-feira, agosto 04, 2005

Suposições

as ruas passam muito rápido quando vistas de um ônibus em movimento. quase não percebemos o que está contido nelas. mas eu percebo alguma coisa. reparo nos rostos, nas ações, nos segundos que passam. a vida é rápida demais e se você não acompanhar acaba louco. muitas vidas convivendo ao mesmo tempo, no mesmo lugar. não dá pra imaginar o que se passa em cada uma delas. quer dizer, imaginar até dá, mas acertar é praticamente impossível.
vivemos de suposições. nada é garantido. eu enxergo as coisas assim. supomos estar certos sobre algumas coisas, supomos estar errados sobre outras. o conceito de certo e errado também é algo suposto. a vida é uma incerteza em todos os aspectos, amedrontadora. somos minúsculos mas supomos ser grandes. somos uma sujeira no planisfério já destinada a ser limpada. só não sabemos quando. apenas supomos.
bem, suponhamos que eu esteja feliz neste meu estágio. suponhamos que eu não fizesse questão de ter férias normais. estaria tudo bem! mas são apenas suposições. a "tia" não sabe pra que serve um estagiário e coloca o coitado para fazer trabalhos braçais e idiotas, tais como organizar arquivos que ele sequer sabe sobre o que se trata. o obediente mas não muito simpático estagiário se dirige à sala da chefe e pergunta como deve executar seu labor, qual o procedimento e arrisca perguntar o que ele ganhará com isso. mas prefere se calar. ele sabe que isso é apenas uma atividade fútil para que ele não fique à toa lendo seu livro, sem nenhum tipo de serviço. ela não pode ver ninguém parado. a chefe avisa: "temos que ter cuidado com esse armário. ele tá muito pesado e já virou em cima da Bete, você lembra? ah, você ainda não estava aqui! pois é, temos que ter cuidado." eu imaginei a cena do armário tombando em cima da Bete. achei que pudesse ter sido engraçado. sorri de lado e aquiesci com a cabeça.
comecei e mexer nas pastas e trocá-las de lugar sem a menor vontade. ela sabe que eu estou de saco cheio desse tipo de coisa. "é uma tarefa chata, mas é preciso. obrigada." replico com um "de nada" abafado, dito entre os dentes. volto a olhar a numeração das pastas. receio que o motivo pelo qual o armário tombou tenha sido excesso de peso na primeira gaveta. sugeri não enchê-la de novo. "não, não, pode encher. temos que passar essas pastas pra primeira gaveta. a segunda está muito cheia." "bom, eu acho que foi por isso que o armário tombou. acho melhor não encher a primeira gaveta", eu disse. "não, pode encher", ela insistiu. ela é teimosa. a dona da verdade. ok, vou seguir seu conselho, madame.
voltei a organizar as pastas, colocando-as na primeira gaveta. ela começou a encher. eu a abri mais uma vez e concluí que o que aconteceu com a Bete não deve ter sido tão engraçado. o armário tombou em cima de mim também. mas eu sou maior e mais forte que ela, e consegui segurá-lo. algumas pastas foram ao chão. "bom, eu disse que ele iria virar de novo." mas a tia não assume. como sempre, incorrigível. bom, não sei o que fez essa porra virar em cima de mim, então. suponhamos que ela estivesse certa e que tenha sido um erro meu.

quarta-feira, agosto 03, 2005

O maremoto

um maremoto repentino passou por aqui. me pegou de surpresa, me acertou em cheio. me jogou contra as pedras. lutei contra a força da água. eu não posso me afogar, não nessas águas. tentei pensar e ao mesmo tempo nadar. 30 segundos debaixo d'água, sem respirar. somente o som da arrebentação acima da minha cabeça, espuma e sal. agonia. bato os braços em vão. perdi os sentidos e já não sei por onde devo tentar escapar. 1 minuto. não aguento muito mais que isso. estou sozinho nessa batalha, pra variar. mesmo com o sal corroendo minhas retinas, abro bem os olhos e enxergo o que deveria ser o sol. ah, é por alí! estou exausto mas não posso desistir. ah! o ar! e mais ondas. o maremoto é sério, é violento e perspicaz. ainda não acabou. uma bateria de ondas me sacode, me afunda. volto à superfície. respiro, soluço e volto a ser alvejado. sou engolido e cospido para longe. branco.
devo ter me agarrado a algum lugar seguro e adormecido por um tempo. estava fraco. agora, então, não tenho adjetivos para minha fadiga. o mar parece calmo e a praia mais limpa. o maremoto lavou as areias do meu litoral. levou embora muita coisa que já deveria ter sido esquecida. o som do mar me agrada, me canta uma melodia há muito esquecida. choro. permaneço deitado e agora observo o céu. azul, poucas nuvens. acho que finalmente tudo acabou. esboço um sorriso tímido que ganha coragem aos poucos. agora ele é audível, sonoro, gostoso. infantil. eu precisava deste maremoto para voltar a viver. enfrentar a grande tormenta para enfim sair vitorioso. devo aproveitar a calmaria. ela se foi, pra sempre.
mesmo não querendo me levantar, apoiei-me sobre meus cotovelos e estalei meu pescoço. num impulso, estava de pé, sentindo o vento em meu rosto. o bom vento vespertino! altivo, me despedi do mar, agora como um espelho aos meus pés. hesitei em agradecê-lo, mas o fiz. em silêncio.
finalmente encontro-me em mim, acordado, despido de ilusões e sentimentos platônicos. não quero criar expectativas, apesar de me sentir restaurado. não quero ser vítima de um outro desastre repentino. citando Pedro Juan Gutiérrez: "a expectativa destrói muitas coisas. porém aprender a escapar dela é uma arte". e assim eu sigo.

terça-feira, agosto 02, 2005

O abandono derradeiro

não quero nem perder tempo discorrendo sobre o que descobri ontem. volto a questionar a índole de certa pessoa. mostrou-se deprimente. adeus.

segunda-feira, agosto 01, 2005

Que venha algo de bom

ando meio chato esses dias. não consigo prestar atenção em ninguém, não quero saber de nada, não ando com muita motivação, energia ou vontade de falar sobre o que me leva a estar assim. prefiro me guardar. guardar aqui. aqui sou eu, com algumas visitas de pessoas que não me importo que vasculhem meu interior. a vontade é estar sozinho, em silêncio. em silêncio. em sonhos.
tem horas que nada me consola mais do que a música. aliás, isso ocorre com frequência. a música, pra mim, tem um efeito incrível, uma importância enorme na minha vida. eu respiro e transpiro música. agora eu não me sinto muito à vontade para ouví-la. no trabalho eu posso acabar incomodando alguém. assim como foi ontem. incomodei demais, eu acho. nos espulsaram do palco na segunda música, mas conseguimos insistir até a quinta, se não me engano. pessoas um pouco egoístas, idosas, amargas. deus queira que eu não fique assim. seria uma grande contradição levando em conta minha personalidade até meus 21 anos.
minha garganta está me matando. essa semana será de intensa recuperação. caso contrário, o fim de semana será uma desgraça. ah, que venha algo de bom dessa vez. não é pedir demais.

Do lado de lá

então, um dia, ela aparece. não sei se fiquei surpreso ou simplesmente animado. não sabia o que fazer, o que falar, nem sequer o que sentir. será que ela veio por mim? quem me responderia essa pergunta? ela? não tenho como perguntar algo assim. soaria pretensioso. eu tomo cuidado com isso. mas, bem, ela estava lá, na minha frente. demorei a entender que agora a coisa era tão simples que eu não poderia tentar complicá-la. mas como sempre, eu a compliquei. demorei, demorei, arrastei-a, demorei, demorei... mas acabou acontecendo alguma coisa de bom. um pouco estranho. eu não sei bem dizer como foi. eu não preciso descrever. o que eu senti foi ótimo, mas e do lado de lá? a recepção foi igual? eu achei que não. não entendi essa maldita brincadeira até agora. o que se ganha com isso eu não posso nem imaginar, mas sei o que se perde. eu perco mais. sempre.
é difícil entendê-la. ela é diferente de todas, imprevisível, surpreendentemente. não que isso seja uma vantagem, isto é apenas uma diferença. eu não ando gostando dessa diferença. eu posso estar pagando por alguns pecados cometidos. eu caio de um prédio de 30 andares, sozinho, numa rua deserta onde o som não incomoda um único ser. me arrasto, eu não morri. cheguei perto. uma voz me apoia, me incentiva a levantar, mas ela não me dá as forças que necessito. essa voz é estranha, não sinto certeza nela. e por isso tropeço em mim mesmo, tropeço nas minhas vontades, nas minhas decisões e indecisões. eu me perdi em algum beco e estou só. o que eu pergunto só eu posso responder. o som reverberiza e volta à minha cabeça, me entorpece e me faz esquecer de respirar por alguns minutos. é uma sensação única.
eu gostaria muito de saber a verdade. aliás, todos nós gostaríamos. não quero brincar de pique-esconde. eu era bom nisso quando era criança, mas eu só sabia me esconder, e não procurar. eu procuro e não te acho. e quando acho... você parece tão longe. o que se passa? PORRA! não assombre esse meu tempo. ainda estou fraco demais. não brinque. faça ou não faça. por favor.

sexta-feira, julho 29, 2005

O dom da invisibilidade

minha vontade era esquecer de tudo, esquecer como isso tudo começou e por que começou. só tem me dado dor de cabeça, gerado arrependimento e me feito perder tempo. mas sinto-me incapaz de deixar essa história de lado e por isso torno a pensar constantemente nisso. vindo para o trabalho, quase perdi meu ponto. voltei a mim bem a tempo.
a entrada de Furnas estava cheia de gente. voltavam do almoço e chegavam na mesma hora que eu às catracas. odeio multidões e detesto pessoas andando a minha frente. tentei me livrar da maior parte delas e acabei passando rapidamente pela catraca. eu gosto de andar sozinho, livre, sem ter ninguém à frente. sem obstáculos. e então voltei a pensar sobre o assunto.
é que ontem eu me enfiei naquela sórdida caixinha de fósforos ridiculamente à toa! bem, nem tão à toa. agora pelo menos eu sei que não devo voltar lá tão cedo. mais uma vez eu quebrei a cara, mais uma vez ela não estava lá. menina-fantasma. impossível! parece que ela não existe! devia ter combinado com ela em vez de tentar fazer algum tipo de surpresa. mas eu tinha CERTEZA de que ela estaria lá, não tinha erro. essa garota é completamente imprevisível! e invisível.
eu já não sei mais o que fazer. o que me prende a isso tudo é o fato dessa história estar interminada. na verdade, ela sequer está bem começada. é como uma dinamite que alguém acendeu o pavio mas não estourou. falhou. talvez um chute faça a bomba explodir. talvez eu próprio precise de um chute.

quarta-feira, julho 27, 2005

O que fazer?

eu já não sei mais o que imaginar, o que esperar ou se devo esperar. gostaria muito de saber o que se passa naquela bela cabecinha. tão perto, tão longe, tanto mistério. e eu tão inseguro ao dar meus primeiros passos sozinho após minha última queda. eu tenho que voltar atrás, engatinhar. sei que não devo desistir. é algo que durante muito tempo eu quis, e agora que estou tão perto de alcançá-la eu não posso me sentir pequeno. mas ela é tão maior.
talvez tudo não tenha passado de um grande desintendimento. eu e minha mania de fazer tempestade no copo d'água. não é o fim do mundo. quem sabe, o início de um outro. bem, isso também seria uma espécie de exagero. digamos ser uma luz no fim do túnel. uma luz ainda muito fraca, oscilante. projeta uma única sombra, indecifrável aos meus olhos fotofóbicos. eu tenho que voltar a me acostumar à claridade. só assim passarei a entender esses pequenos enigmas.
estou encarando esse telefone desde ontem. a vontade é discar, mas a insegurança me trava. o que tenho a perder? acho que perderei muito mais se não ligar. porra, tem horas que a timidez deveria ser extinta daqui. ela faz esse maldito aparelho pesar toneladas. eu não sei o que dizer pra ela. será que ela tem algo pra me dizer? o jeito é arriscar. e o mínimo que eu ganharei será alguns posts a mais por aqui.

segunda-feira, julho 25, 2005

Sintomas

de volta à rotina. segunda-feira é dose. sempre chego no trabalho destruído, moído, cansado demais pra conseguir me mexer. e hoje é uma segunda-feira-pós-domingo-frustrado, o que torna as coisas ainda mais difíceis. de certa forma, eu sabia que ontem eu estava enganado mais uma vez. talvez eu tenha apenas dormido demais.
quando eu realmente quero alguma coisa, eu corro atrás dela. quando eu me importo, eu faço por onde. tenho motivos para estar um pouco decepcionado. acho que frustrado é o melhor adjetivo. eu posso ter acreditado demais, ou quisto demais e por isso a queda foi grande. eu costumo fazer esse tipo de tempestade no copo d'água.
ser pessimista tem seus pontos positivos (estranha frase). esperar o pior é estar preparado. é uma qualidade inerente às pessoas que já estão acostumadas a dar com a cara no chão.
ainda não sei se devo me considerar um otário, pobre menino bobo e ingênuo. é muito cedo para isso e ao mesmo tempo muito tarde para eu recuperar toda a crença que eu tinha de que alguma coisa poderia dar certo. eu! um cara de baixa auto-estima que não fala as coisas da boca pra fora. não, essa baixa auto-estima não é de hoje. parece que eu já nasci com ela e nunca consegui me desvencilhar deste mal. chega a parecer piegas, e até mesmo modístico (já que a onda do momento é aparentar estar sempre triste), porém, quem realmente me conhece sabe que eu estou quase sempre alegre, de bom humor. mas a baixa auto-estima está lá, de braço dado comigo, me alfinetando e cochichando besteiras ao meu ouvido.
estou cansado demais até mesmo para pensar sobre o que aconteceu ontem. ou melhor, sobre o que não aconteceu. se vier a acontecer, ótimo, mas não quero me iludir. nossa, estou indo muito longe com isso! não é assim. estou me escorando em palavras largadas, e não em sentimentos concretos. isso é um grande mal. sintomas de otimismo.

domingo, julho 24, 2005

A sujeira que ficou pra trás

há dias que parecem cooperar com nossas vontades. às vezes eu levanto e parece que tudo vai funcionar, que tudo vai sair do jeito que eu quero. na maioria das vezes eu acabo descobrindo que eu estava enganado e que simplesmente eu havia dormido demais, e isso de certa forma me conforta. viver sem grilhões é ótimo. sem preocupações, sem ter o coração agarrado a qualquer ser mundano. bem, eu sinto falta deste sentimento, e agora eu me pego contradizendo-me.
a verdade é que eu já cansei de tomar porradas psicológicas, cansei de me decepcionar, cansei de ver pessoas se transformarem. é a história da lagarta que sai do casulo para bater asas para bem longe. nunca mais volta para limpar a sujeira que ficou pra trás, e esquece de sua origem. simplesmente esquece. bom, ainda quero continuar tentando.
me sinto mais leve hoje em dia. acho que já estou quase recuperado, quase podendo levantar o rosto e fitar os olhos de quem me feriu amargamente. e eu a abraçaria, engolindo mágoas, engolindo qualquer sentimento perdido nos recônditos de minha pessoa. eu sei que ela é uma boa pessoa. ela apenas fez o melhor pra ela. quando o assunto é ser feliz, devemos ser egoístas mesmo. mandar tudo às favas e seguir da maneira que melhor nos convir.
a lua brilhou bastante ontem e o sol me pareceu menos poligonal esta manhã. espero que desta vez eu não esteja enganado.

sexta-feira, julho 22, 2005

Ah, a surpresa!

saí mais tarde de casa hoje e, por incrível que pareça, cheguei mais cedo do que nos outros dias da semana. saltei do ônibus e já sabia o que me esperava nas calçadas infectas: mais pessoas, mais merda, mais fumaça, mais panfleteiros. uma coisa que me irrita nesses panfleteiros é aquela batidinha que eles dão com os papéis pra chamar a atenção da gente. eles não podem chamar a atenção. panfleteiros têm de agir na espreita, de supetão. ninguém nunca está interessado em receber porcarias na rua, então o encarregado desta terrível tarefa já começa com um grave problema. ele tem de ser rápido, simpático e direto. eu tenho alguma experiência no assunto, afinal, já são alguns anos divulgando shows pelas ruas.
quem nunca aceitou panfletos por pena do entregador? eu já cansei disso, e agora eu prefiro ignorar. cada um que eu ignoro é uma pontada na minha simpatia. ah, mas pensando bem, o cara já tá cansado de ser ignorado diariamente. um solitário nas ruas lotadas. um paradoxo vivo em cada esquina.
como já havia dito, cheguei mais cedo. the boss isn't here, o que torna minha sexta-feira muito menos apreensiva e dez vezes mais tranqüila. muito mais produtiva também, pois não recebo nenhuma outra tarefa aleatória e sem importância das mãos da querida "tia", tais como empacotar bugingangas, pendurar quadros, etc. aproveitei para pensar um pouco mais sobre certos assuntos. decidi que é melhor não pensar sobre tais assuntos. o melhor é agir. esperar e agir. esperar, respirar e agir. ah, que se foda a ordem dos fatos! o lance é mais ou menos por aí mesmo. um dia nós caímos duro e não sabemos nem o por quê. os seres humanos são movidos por seus sentimentos, e não pela razão. alguns carregam bons sentimentos, outros ruins. e não somos transparentes o suficiente para deixar nossas intenções bem claras, expostas como numa vitrine. pelo lado bom da coisa, se fosse assim, o mundo não conheceria as palavras "curiosidade" e "surpresa". ah, a surpresa... eu só quero ver...

quinta-feira, julho 21, 2005

Tentando reatar os laços

maldita calçada. desta vez não estava sozinho, muito pelo contrário. o dia é sempre mais cheio que a noite, coisa que não consigo entender o por quê. tentava, como sempre, me esquivar da moleza vespertina (para mim, matinal) e das pessoas por ela contagiadas, à minha frente. os sentidos se misturam nas calçadas lotadas. sons, odores, cores e papéis nas mãos, amassados, sem importância. muitos no chão, como meus olhos cansados e inchados. tento erguer um pouco a vista a fim de me alegrar com a cor do céu. sinto a brisa encher meus pulmões, fria, finalmente. a sensação me lembra a sensação de ontem à noite. um frio bom, talvez anunciando bons tempos futuros.
um grande amigo finalmente se rebelou: o sono. me abandonou nas horas em que deveria aparecer e me visita constantemente quando não deve. o que ganhamos com isso? somos uma equipe, meu caro, mas você está fazendo gol contra. isso me lembra as férias de 2002 quando me adoeci seriamente. não dormia direito, não me alimentava devidamente, estava só. foi uma grande batalha contra meu fiel amigo. as bebidas me consolavam, mas ao mesmo tempo me destruíam. uma cerveja cairía bem agora, enquanto estou sentado na frente deste computador, lutando para não pregar os olhos. colocaria os pés em cima da mesa, entornaria um longo gole, entoaria um belo arroto e seria mal visto por meus companheiros de trabalho. vida, vida... algumas pessoas simplesmente não sabem se divertir. e por isso trabalham. porra, o que eu tô fazendo aqui?
ora, nem tudo é tão ruim. reatei os laços de amizade com um querido amigo, de longa data. enfim, o cofee break!

quarta-feira, julho 20, 2005

Penso, logo...

alguma nova decisão que eu me fiz tomar, errando por ruas, sem razão, tentando lembrar palavras que eu ainda não aprendi para justificar minha condição. no alto, a luz de algum andar, nos prédios da insanidade local. pessoas absorvem energia sem ter no que gastar. gastam sem pensar, em qualquer coisa.
rastros de um breve outono em folhas secas aos meus pés. são como anos que passei sem ter nas mãos objetivos claros para atingir. dinheiro. esse é o objetivo de toda pessoa despida de cinismo e hipocrisia. mas o objetivo consome o conquistador e se transforma em paixão, cega o sujeito, o ensurdece. as pessoas buscam tijolos sem ter cimento.
eu me considero ainda muito novo para entender essas coisas, ou sou muito ingênuo e por isso as ignoro. ou então o fato de eu as ignorar seja uma prova de maturidade, depende do ponto de vista. eu as enxergo, eu convivo com elas, mas não faço parte. dinheiro é bom, mas não é tudo. não há amizade que se compre, não há um beijo que se venda. não há cofre que comporte meus sentimentos por minha família.
com ela foi assim. se afastou, empederniu e resolveu mudar suas idéias, de chofre! foi vítima de seus objetivos. como quem corta um fio de arame no meio, ela, num átimo, rompeu nossa relação e focou seus grandes olhos negros na porta da frente, abriu-a, atravessou-a e bateu-a com força. ela não teve tempo sequer de ver a minha cara. trancou a porta e tal chave perdeu o uso.
nesses meses que se seguem, tudo me remete à ela. sempre acabo falando ou pensando nela. esse sou eu. ainda procuro palavras para minha condição. não existe um nome pra isso, um nome que diga tanto como "saudade", belíssima palavra. "sono", "vida", "amigo". quero uma palavra forte.
esse sou eu. reticências perdidas na calçada esquerda de uma rua vazia.