quinta-feira, agosto 11, 2005

Atrasos em minha vida

ainda me iludo sempre que chego sozinho ao hall de elevadores do bloco A de Furnas. acredito que conseguirei subir sozinho, mas é incrível como as pessoas brotam de todos os lados. hoje eu contei. em apenas 8 segundos já havia aparecido mais 5 pessoas além de mim no hall. eu trabalho no décimo primeiro andar de um prédio de dezesseis. é realmente muito chato ter que subir no elevador com a certeza de que 90% das pessoas que estão comigo saltarão em andares abaixo do meu. torna-se uma viagem. sem contar que o parar e abrir e fechar das portas do elevador dura algo em torno de 10 segundos. quando não se está fazendo nada, apenas esperando, 10 segundos parecem durar o tempo de uma missa.
eu apenas desisto. quando vi que o primeiro elevador havia chegado e todos os presentes corriam para ele, travei meus pés no chão e apenas observei. sabia que não demoraria muito e um outro chegaria ao térreo. e chegou. entrei absolutamente sozinho no elevador, mas vi que alguém já se aproximava. ok, eu divido meu transporte com mais uma pessoa, sem problemas. apenas mais uma! mas logo embarcaram mais três. comprovando minha teoria, uma delas saltou no quinto, duas no sétimo e a última no nono.
a espera é algo que me aturde. é jogar a vida fora. a não ser que esta espera seja acompanhada de alguma pessoa interessante, ou cerveja. ou um cigarro. algumas pessoas contam o tempo de espera baseando-se em quantos cigarros fumam durante tanto tempo. "ah, o ônibus nem demorou tanto. só fumei dois cigarros no ponto e ele chegou". já faz parte da rotina. eu canto. sempre cantarolo alguma música enquanto espero. batuco, pareço meio louco. já cansei de ver pessoas me contemplando. será que só eu canto sozinho na rua? acho muito pouco provável.
para passar o tempo aqui, sentado, sem ter muito o que fazer, resolvi dar uma folheada na revista Pilotis, da PUC. catei por lá hoje. uma bosta, como sempre. pessoas plásticas demais, todas iguais, posando para fotos com suas mãozinhas fazendo gestos estúpidos. caras e bocas estúpidas. ainda rola uma coluna onde um amigo meu escreve coisas bonitas e bem escritas. registros emocionais. deveria funcionar mais ou menos como isso aqui, mas ele enrola demais. muitas pessoas acham que escrever rebuscadamente é mais bonito, é mais sincero. uma pena. acabei me perdendo no texto dele com tantas palavras proparoxítonas e outras tantas terminadas em "mente" e "al". reli e entendi o que ele quis dizer, mas soou tão falso, superficial. não consegui remontar a situação que ele descreveu. não com tanta emoção. remontei como uma gravura, e não como um filme. tem horas que um "merda" cai bem melhor que um "droga", "oh não!". como tem poder essa palavra!
ah, esperar é um saco. e eu ainda tenho que ficar aqui pelo menos mais vinte minutos para cumprir as quatro horas diárias de estágio. dê-me licença. lá, lá, lá, lá...

(ouvindo 'broken social scene - you forgot it in people')

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