as ruas passam muito rápido quando vistas de um ônibus em movimento. quase não percebemos o que está contido nelas. mas eu percebo alguma coisa. reparo nos rostos, nas ações, nos segundos que passam. a vida é rápida demais e se você não acompanhar acaba louco. muitas vidas convivendo ao mesmo tempo, no mesmo lugar. não dá pra imaginar o que se passa em cada uma delas. quer dizer, imaginar até dá, mas acertar é praticamente impossível.
vivemos de suposições. nada é garantido. eu enxergo as coisas assim. supomos estar certos sobre algumas coisas, supomos estar errados sobre outras. o conceito de certo e errado também é algo suposto. a vida é uma incerteza em todos os aspectos, amedrontadora. somos minúsculos mas supomos ser grandes. somos uma sujeira no planisfério já destinada a ser limpada. só não sabemos quando. apenas supomos.
bem, suponhamos que eu esteja feliz neste meu estágio. suponhamos que eu não fizesse questão de ter férias normais. estaria tudo bem! mas são apenas suposições. a "tia" não sabe pra que serve um estagiário e coloca o coitado para fazer trabalhos braçais e idiotas, tais como organizar arquivos que ele sequer sabe sobre o que se trata. o obediente mas não muito simpático estagiário se dirige à sala da chefe e pergunta como deve executar seu labor, qual o procedimento e arrisca perguntar o que ele ganhará com isso. mas prefere se calar. ele sabe que isso é apenas uma atividade fútil para que ele não fique à toa lendo seu livro, sem nenhum tipo de serviço. ela não pode ver ninguém parado. a chefe avisa: "temos que ter cuidado com esse armário. ele tá muito pesado e já virou em cima da Bete, você lembra? ah, você ainda não estava aqui! pois é, temos que ter cuidado." eu imaginei a cena do armário tombando em cima da Bete. achei que pudesse ter sido engraçado. sorri de lado e aquiesci com a cabeça.
comecei e mexer nas pastas e trocá-las de lugar sem a menor vontade. ela sabe que eu estou de saco cheio desse tipo de coisa. "é uma tarefa chata, mas é preciso. obrigada." replico com um "de nada" abafado, dito entre os dentes. volto a olhar a numeração das pastas. receio que o motivo pelo qual o armário tombou tenha sido excesso de peso na primeira gaveta. sugeri não enchê-la de novo. "não, não, pode encher. temos que passar essas pastas pra primeira gaveta. a segunda está muito cheia." "bom, eu acho que foi por isso que o armário tombou. acho melhor não encher a primeira gaveta", eu disse. "não, pode encher", ela insistiu. ela é teimosa. a dona da verdade. ok, vou seguir seu conselho, madame.
voltei a organizar as pastas, colocando-as na primeira gaveta. ela começou a encher. eu a abri mais uma vez e concluí que o que aconteceu com a Bete não deve ter sido tão engraçado. o armário tombou em cima de mim também. mas eu sou maior e mais forte que ela, e consegui segurá-lo. algumas pastas foram ao chão. "bom, eu disse que ele iria virar de novo." mas a tia não assume. como sempre, incorrigível. bom, não sei o que fez essa porra virar em cima de mim, então. suponhamos que ela estivesse certa e que tenha sido um erro meu.
quinta-feira, agosto 04, 2005
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