quarta-feira, agosto 24, 2005

A vista daqui de cima

estou curado! tenho quase certeza disso (é difícil ter certeza das coisas). após quase 2 meses, o telefone tornou a tocar e puder ouvir a mesma voz que me aqueceu durante 2 anos. eu não gaguejei, eu não tremi. meu coração permaneceu tranqüilo. não sou de guardar rancores e julgo-me um ótimo ex-namorado - talvez até melhor do que propriamente "namorado". ela parecia distante, mas acabou ficando mais à vontade aos poucos. realmente fazia tempo que não nos falávamos de maneira amistosa. ainda guardo muito carinho por ela, ou pela pessoa que ela foi enquanto dividiu a vida comigo. hoje ela é uma outra garota, com outros hábitos e gostos. um pouco decepcionantes, mas isso fica a meu critério, apenas.
eu já sabia que ela estava namorando um garoto. não gosto dele. pode parecer dor de cotovelo de ex-namorado abandonado, mas não é! realmente nunca gostei desse cara, e por isso não desejei felicidades. ela não parece muito feliz também, e essa notícia, de alguma forma, me deixou relaxado. é um pensamento escroto, mas é bom quando finalmente você está por cima e vê quem te fez sofrer numa plataforma mais abaixo, com os olhos voltados para o céu. tentam encontrar explicações. não que ela esteja totalmente infeliz, não é isso. ela simplesmente criou um namoro onde não havia a menor necessidade de existir um. amigos, é isso que são. sem paixão. bom, não quero expor a vida da menina em miúdos.
foi ótimo conversar com ela durante uma hora e meia. é estranho contar pra menina que eu amei durante 2 anos os meus casos mais recentes. mais estranho é ela se interessar em saber. não gostou de saber, claro. eu também não gostaria. eu não quis contar muita coisa, apenas números e nomes. algumas situações. preferi não saber de nada. foi ela quem quis assim, um pra cada lado, então vamos tocar nossas vidas pra frente, sem nos preocupar. eu tenho planos, ela também deve ter alguns. e é isso.
devo estar realmente curado. ela mesma me deu a cura, incentivando-me, forçando-me a esquecê-la. e eu esqueci. num momento de raiva, disse-lhe que havia se tornado apenas um buraco em minha vida. é, mas eu tenho o coração mole e muita coisa pra viver ainda. tapei esse buraco com carinho, e apenas isso. deixo um "L" para correr atrás de outro. deixando rolar. há uma boa vista aqui em cima.

Fuga e redenção

trinquei os dentes e experimentei uma vez. tudo tremeu. hesitei em experimentar a segunda, mas o fiz. uma barra se partiu com um breve estalo. ninguém me notou. enchi-me de coragem, lacrimegei ao lembrar meus motivos e investi novamente contra a jaula de plástico. me vi do outro lado, livre, apenas com alguns arranhões. tornei a fitar a jaula e analisei o estrago que fiz. é, era necessário.
sem saber muito bem o que fazer em liberdade, decidi beber. o álcool nos ajuda a manchar lembranças, a turvar pensamentos inconvenientes. bebi demais a ponto de não conseguir pensar em mais nada. só em mim. já fazia algum tempo que não realizava tal proeza. me senti só, como realmente estava, mas era incapaz de perceber ou aceitar. tropecei em mim mesmo, me enxerguei dos pés à cabeça. não devia nada a ninguém.
de repente, beijei uma menina. não era ela. digo, não era ELA. foi tudo muito simples, muito casual. parecia estar tudo bem pra todo mundo. a resposta viria no dia seguinte.
como sempre, a resposta veio em código ("boys speak in rhythm and girls in code"). por alguns minutos, tive toda a certeza do mundo de que tinha jogado no lixo minhas chances com ELA. para mim, ela estava contaminada com a indiferença. do pouco que consegui decodificar de sua resposta, entendi que não estava. parece que se importou com o que aconteceu. agora eu sinto algo perto de um arrependimento. não é pleno porque realmente eu andava um pouco chateado com algumas suposições. a vida é feita de suposições. o whisky me convenceu de que eu estava certo, então fui em frente. eu não fiz nada com a intenção de esquecê-la, mas, talvez, com a intenção de me frear, de afastá-la um pouco da minha cabeça. não dá! eu não estou conseguindo. eu sou um fudido, fraco demais para lidar com essas peças que aquilo-que-os-românticos-e-perdedores-chamam-de-destino insiste em me pregar. e é sempre. me lembro de episódios absurdos. este é um deles. quando eu iria imaginar que seria possível? eu deveria crer um pouco mais em mim... e ela também. ou, quem sabe, deveríamos crer em nós?

quarta-feira, agosto 17, 2005

The rescue mission - status: very emergency

já voltei a dormir bem. deito na cama e logo consigo pregar os olhos e adormeço facilmente. fim da era da insônia que me açoitava durante as férias.
no entanto, o bom e velho amigo sono voltou com uma força tremenda. de manhã sinto-me um zumbi, com grandes olheiras e pouca vontade de fazer qualquer coisa. luto contra meu companheiro. não, ele andou me traindo, não posso aceitá-lo de volta assim, tão fácil. por mais que eu queira. ele quase me derrubou hoje, mas mostrei resistência. suportei por 4 horas seu assombro e aí, enfim, ele me conquistou. mas já estava em casa e não havia problema algum.
levantei e pude almoçar. isso pra mim é um luxo agora. somente às segundas e quartas eu consigo almoçar em casa, decentemente. cedo demais, mas ou é isso ou uma porcaria qualquer na rua. terminei o almoço e saí para Furnas. vim de carro, aproveitando que meu pai está viajando. a vantagem do ônibus é que, durante a viagem, eu geralmente faço uma faxina mental. observo as ruas, analiso o momento e penso muito. não penso muito, também. depende do dia. quando se está dirigindo não se pode pensar em muita coisa fora o trânsito. alguns malucos tacados na rua, como sempre, pondo em risco nossa paciência.
parece que meus dias estão passando em nós. parecem estar amarrados, formando um pequeno círculo. o que eu estou tentando dizer é que a minha rotina está sacal e tenho acordado todos os dias com a idéia fixa de que nada de novo irá acontecer. nada me surpreenderá, nada terá a capacidade de arrancar suspiros de mim. minha vida está estacionada e não vejo nenhuma saída para isso. acordar, tomar café, escovar os dentes, me arrumar, faculdade, pegar ônibus, estágio, encontrar meu pai, esperar, buscar o carro no estacionamento, trânsito, casa, rua com o cachorro, casa, banho, cama, acordar, tomar café, escovar os dentes... isso vai acabar comigo! não, eu preciso quebrar essa rotina. não consigo esperar até o fim de semana. alguém me resgate!!

terça-feira, agosto 16, 2005

Bom, na verdade...

"oi, e aí! tudo bom?". "tudo bem.".eu minto. nem sempre está tudo bem, mas imagina se eu começasse a dizer tudo o que anda me incomodando. "na verdade, não está tudo bem. sabe o que é? eu ando meio chateado com isso e isso e isso...". as pessoas perguntam se está tudo bem como se fosse um ponto no fim da frase. elas não querem nem saber o que há de errado. somos regidos pela pressa, pela fugacidade. nada perdura, nada é perene. talvez porque realmente nada foi feito para resistir. coisas duradouras costumam enjoar, perdem a graça e precisam ser repostas, substituídas. ou até mesmo esquecidas. as pessoas morrem, não é mesmo? real ou de maneira metafórica, todos acabamos sendo enterrados um belo dia.
eu não ando muito satisfeito com aquela história. não quero nem discorrer mais sobre o assunto. já disse que agora espero algo da parte dela. eu não me sinto à vontade para tornar a insistir. e não o farei tão cedo.
terminei o livro que estava lendo desde o começo das férias, se não me engano. gostei muito, assim como o outro livro do Pedro Juan Gutiérrez que já havia lido, "O Insaciável Homem-Aranha". "Trilogia" é mais completo, mais chocante. o Brasil parece o paraíso agora. não, não é esse tipo de visão que devo ter. devo me reter em Cuba. miséria, falta de esperança. seres tentando sobreviver como verdadeiros animais. fome, descrença. pensando melhor, não posso me dar ao luxo de dizer que "não está tudo bem".

(ouvindo 'codeseven - the rescue')

segunda-feira, agosto 15, 2005

Eu em stand-by

ela me contaminou com a indiferença. pelo menos eu deveria estar contaminado. é uma situação mais cômoda onde não existem expectativas nem esperança. se acontecer, legal. se não acontecer, não faz falta. eu tenho que me contaminar. pra mim faz falta. ela me elogia, me prende e me entorpece, mas não concretiza suas falas. não sei, sinceramente. devo ficar mais distante (ainda), se é que isso é possível. é, definitivamente ainda não estou contaminado.
isso vai contra toda a minha vontade. eu não quero carregar nas costas tudo sozinho. são duas bocas que se beijam, são duas mãos distintas que se tocam. não estou só. na verdade, estou. sinto-me perdido e encarcerado numa jaula de plástico. basta eu ter um pingo de força de vontade para destruí-la e me libertar, mas ao mesmo tempo eu tenho calma. eu espero. mas esperar cansa e é algo que eu detesto. esperar é deixar a vida ir embora sem perceber. eu percebo e por isso odeio esperar. é, estou quase metendo um pontapé nessas barras de plástico.
é difícil suportar esse tipo de situação quando ainda se está fraco. preciso de um tempo para respirar e ver se ela quer de fato dividir o mesmo ar comigo. depende só dela. eu já fiz minha parte. é como se sentir deixado de lado, em stand-by.

(ouvindo 'slow coming day - farewell to the familiar')

quinta-feira, agosto 11, 2005

Atrasos em minha vida

ainda me iludo sempre que chego sozinho ao hall de elevadores do bloco A de Furnas. acredito que conseguirei subir sozinho, mas é incrível como as pessoas brotam de todos os lados. hoje eu contei. em apenas 8 segundos já havia aparecido mais 5 pessoas além de mim no hall. eu trabalho no décimo primeiro andar de um prédio de dezesseis. é realmente muito chato ter que subir no elevador com a certeza de que 90% das pessoas que estão comigo saltarão em andares abaixo do meu. torna-se uma viagem. sem contar que o parar e abrir e fechar das portas do elevador dura algo em torno de 10 segundos. quando não se está fazendo nada, apenas esperando, 10 segundos parecem durar o tempo de uma missa.
eu apenas desisto. quando vi que o primeiro elevador havia chegado e todos os presentes corriam para ele, travei meus pés no chão e apenas observei. sabia que não demoraria muito e um outro chegaria ao térreo. e chegou. entrei absolutamente sozinho no elevador, mas vi que alguém já se aproximava. ok, eu divido meu transporte com mais uma pessoa, sem problemas. apenas mais uma! mas logo embarcaram mais três. comprovando minha teoria, uma delas saltou no quinto, duas no sétimo e a última no nono.
a espera é algo que me aturde. é jogar a vida fora. a não ser que esta espera seja acompanhada de alguma pessoa interessante, ou cerveja. ou um cigarro. algumas pessoas contam o tempo de espera baseando-se em quantos cigarros fumam durante tanto tempo. "ah, o ônibus nem demorou tanto. só fumei dois cigarros no ponto e ele chegou". já faz parte da rotina. eu canto. sempre cantarolo alguma música enquanto espero. batuco, pareço meio louco. já cansei de ver pessoas me contemplando. será que só eu canto sozinho na rua? acho muito pouco provável.
para passar o tempo aqui, sentado, sem ter muito o que fazer, resolvi dar uma folheada na revista Pilotis, da PUC. catei por lá hoje. uma bosta, como sempre. pessoas plásticas demais, todas iguais, posando para fotos com suas mãozinhas fazendo gestos estúpidos. caras e bocas estúpidas. ainda rola uma coluna onde um amigo meu escreve coisas bonitas e bem escritas. registros emocionais. deveria funcionar mais ou menos como isso aqui, mas ele enrola demais. muitas pessoas acham que escrever rebuscadamente é mais bonito, é mais sincero. uma pena. acabei me perdendo no texto dele com tantas palavras proparoxítonas e outras tantas terminadas em "mente" e "al". reli e entendi o que ele quis dizer, mas soou tão falso, superficial. não consegui remontar a situação que ele descreveu. não com tanta emoção. remontei como uma gravura, e não como um filme. tem horas que um "merda" cai bem melhor que um "droga", "oh não!". como tem poder essa palavra!
ah, esperar é um saco. e eu ainda tenho que ficar aqui pelo menos mais vinte minutos para cumprir as quatro horas diárias de estágio. dê-me licença. lá, lá, lá, lá...

(ouvindo 'broken social scene - you forgot it in people')

terça-feira, agosto 09, 2005

Introspecções

estou de volta à rotina. aulas de manhã e estágio à tarde. meu curso, que tomaria também minha noite, foi cancelado. não sei se devo comemorar ou ficar triste. eu tava querendo fazer esse curso. deixa pra próxima.
saí com pressa da faculdade mas consegui chegar cedo a Furnas. na verdade, passei antes no Spoleto pra almoçar. dei o tremendo azar de pegar uma coroa meio confusa na minha frente. ela não sabia exatamente o que pedir. enrolou demais. parecia que havia imposto a regra de não repetir um ingrediente sequer e assim ficou tentando lembrar do que mais gostava. o que mais ela poderia enfiar lá dentro para deixar seu espaguete mais saboroso. bah. eu sempre peço a mesma merda. e sempre exagero na pimenta.
almoçar sozinho pode ser bastante interessante. eu gosto muito de ter companhia no almoço também, até prefiro, mas às vezes precisamos fazer certas coisas sozinhos. não necessariamente "sozinhos", mas tendo apenas nossos pensamentos como acompanhantes. introspecções são sempre válidas, não importa por quanto tempo durem. fiz uma breve análise da minha vida no atual momento. acho que o saldo está positivo. prefiro achar que sim, até alguém me provar o contrário. e sempre tem um filho da puta que consegue provar. que ele fique mais um tempo entocado e não me aporrinhe.
tentei de todas as maneiras espantar o sono. em frente a esse computador, estático, me mordo de tédio. preciso inventar algum tipo de passatempo, porém, se a chefe me pega sem estar digitando qualquer besteira ou folheando quaisquer papéis, ela me agarra e me manda engraxar sapatos e lustrar móveis. metáforas, claro. bom, nem tanto assim. afinal, consegui permanecer com os olhos abertos. a cabeça longe. tive tarefas para executar e isso preencheu uma parte da minha tarde por aqui.
as noite estão livres, então. pelo menos, por enquanto. gostaria de ocupá-las. preciso esperar a certeza.

(ouvindo 'hot water music - no division')

segunda-feira, agosto 08, 2005

Fuçaram minha vida

estava fuçando a vida de uma amiga minha agora ha pouco. ela falava exatamente sobre fuçar a vida dos outros. coisa mais sem sentido. eu andei descobrindo coisas que não gostaria de ter descoberto justamente por essa vontade inexplicável de querer saber o que não se deve. deixa pra lá, melhor largar quieto num canto e deixar morrer. já morreu. não posso cair nessa tentação. ela que cuide da vida dela, e eu tenho que dar um jeito de arrumar a minha.
a verdade é que eu já sei como arrumá-la, mas não sei se irei conseguir. preciso de ajuda. preciso de tempo, coragem e paciência. e sorte. tudo se resume a isso. acho que já foi dado o início. o problema é que não podemos prever o que vem pela frente. essa estrada é muito esburacada, com curvas acentuadas. antes eu ainda tinha um obstáculo muito grande para driblar, mas a vida tratou de removê-lo do caminho. a vida realmente nos surpreende. esse obstáculo não poderia ser removido apenas com palavras.
sexta-feira poderia ter sido a noite perfeita. foi tudo assim até as 6 horas da manhã. voltei ao carro e haviam roubado meu rádio. não tive reação. entrei no carro e tentei realizar o que se passava. parei, olhei pra ela e não soube o que dizer. ela também não. de súbito, levantei, larguei um palavrão e abri a mala. o sangue fervendo. ainda estava lá. minha guitarra estava lá. aliviei. voltei ao carro e me lembrei do dia em que comprei o rádio. foi um presente de aniversário. eu gostava muito dele, mas de alguma forma eu sabia que não iria durar. essa cidade me sufoca. a vontade é ir embora e nunca mais voltar, mas minha vida é aqui, e é tarde para se fugir. eu fujo para essas linhas. tento fazer diariamente. e faço, mas não por escrito. a viagem de volta foi em silêncio, ensurdecedor e inquietante.
vou tentar não me esquentar mais com isso. já fiquei muito triste. tenho ainda mais motivos para não mais fuçar a vida dos outros. quando fuçam a minha, eu fico puto.

(ouvindo 'maritime - glass floor')

sexta-feira, agosto 05, 2005

Uma velha história

acordei meio zonzo hoje. atrasado. bebi muita cerveja na noite passada. estava pelo Leblon, com grandes amigos. ela passou na minha frente, mas não me viu. eu estava no bar, sentado. só a vi de costas e achei melhor não chamar. nem me aproximar. eu estava esperando ela retornar minha ligação e sabia que o faria. eu também sabia o que ela iria dizer.
estava cansada e não iria sair. eu precisava saber se isso era algum tipo de desculpa constante e se eu estava sendo inconveniente. precisava saber se era melhor deixar tudo de lado. ela me deu uma luz, enfim. disse que eu não estava sendo chato, e que eu poderia ligar quando quisesse. ótimo. andava pensando muito sobre essa situação e agora parece que terei algum sossego.
talvez todo aquele peso tenha verdadeiramente abandonado meu peito. mais parecia uma garra arranhando meu coração, fazendo aquele som rascante, agoniante e ensurdecedor. se toda aquela carga emocional ainda me habitasse, eu não conseguiria pensar em outra garota direito. mas bem, essa é uma velha história. de vez em quando alguns baús são abertos e redescobrimos sonhos há muito enterrados, empoeirados. sonhos esquecidos e soterrados por outras vontades, pensamentos, idades, beijos, lugares, etc. tudo tem o seu tempo, sua época para acontecer, e não é bom contrariar esta lei. acho que relacionamentos que tive há muito tempo atrás talvez dessem mais certo hoje em dia. o tempo é responsável por muita coisa, se não por todas elas. muitas coisas mudam com ele, mas outras são conservadas. ah, eu conservei essa vontade. eu nunca imaginei que fosse provável, nem possível. talvez eu tenha dado sorte. não podemos dar azar sempre.

quinta-feira, agosto 04, 2005

Suposições

as ruas passam muito rápido quando vistas de um ônibus em movimento. quase não percebemos o que está contido nelas. mas eu percebo alguma coisa. reparo nos rostos, nas ações, nos segundos que passam. a vida é rápida demais e se você não acompanhar acaba louco. muitas vidas convivendo ao mesmo tempo, no mesmo lugar. não dá pra imaginar o que se passa em cada uma delas. quer dizer, imaginar até dá, mas acertar é praticamente impossível.
vivemos de suposições. nada é garantido. eu enxergo as coisas assim. supomos estar certos sobre algumas coisas, supomos estar errados sobre outras. o conceito de certo e errado também é algo suposto. a vida é uma incerteza em todos os aspectos, amedrontadora. somos minúsculos mas supomos ser grandes. somos uma sujeira no planisfério já destinada a ser limpada. só não sabemos quando. apenas supomos.
bem, suponhamos que eu esteja feliz neste meu estágio. suponhamos que eu não fizesse questão de ter férias normais. estaria tudo bem! mas são apenas suposições. a "tia" não sabe pra que serve um estagiário e coloca o coitado para fazer trabalhos braçais e idiotas, tais como organizar arquivos que ele sequer sabe sobre o que se trata. o obediente mas não muito simpático estagiário se dirige à sala da chefe e pergunta como deve executar seu labor, qual o procedimento e arrisca perguntar o que ele ganhará com isso. mas prefere se calar. ele sabe que isso é apenas uma atividade fútil para que ele não fique à toa lendo seu livro, sem nenhum tipo de serviço. ela não pode ver ninguém parado. a chefe avisa: "temos que ter cuidado com esse armário. ele tá muito pesado e já virou em cima da Bete, você lembra? ah, você ainda não estava aqui! pois é, temos que ter cuidado." eu imaginei a cena do armário tombando em cima da Bete. achei que pudesse ter sido engraçado. sorri de lado e aquiesci com a cabeça.
comecei e mexer nas pastas e trocá-las de lugar sem a menor vontade. ela sabe que eu estou de saco cheio desse tipo de coisa. "é uma tarefa chata, mas é preciso. obrigada." replico com um "de nada" abafado, dito entre os dentes. volto a olhar a numeração das pastas. receio que o motivo pelo qual o armário tombou tenha sido excesso de peso na primeira gaveta. sugeri não enchê-la de novo. "não, não, pode encher. temos que passar essas pastas pra primeira gaveta. a segunda está muito cheia." "bom, eu acho que foi por isso que o armário tombou. acho melhor não encher a primeira gaveta", eu disse. "não, pode encher", ela insistiu. ela é teimosa. a dona da verdade. ok, vou seguir seu conselho, madame.
voltei a organizar as pastas, colocando-as na primeira gaveta. ela começou a encher. eu a abri mais uma vez e concluí que o que aconteceu com a Bete não deve ter sido tão engraçado. o armário tombou em cima de mim também. mas eu sou maior e mais forte que ela, e consegui segurá-lo. algumas pastas foram ao chão. "bom, eu disse que ele iria virar de novo." mas a tia não assume. como sempre, incorrigível. bom, não sei o que fez essa porra virar em cima de mim, então. suponhamos que ela estivesse certa e que tenha sido um erro meu.

quarta-feira, agosto 03, 2005

O maremoto

um maremoto repentino passou por aqui. me pegou de surpresa, me acertou em cheio. me jogou contra as pedras. lutei contra a força da água. eu não posso me afogar, não nessas águas. tentei pensar e ao mesmo tempo nadar. 30 segundos debaixo d'água, sem respirar. somente o som da arrebentação acima da minha cabeça, espuma e sal. agonia. bato os braços em vão. perdi os sentidos e já não sei por onde devo tentar escapar. 1 minuto. não aguento muito mais que isso. estou sozinho nessa batalha, pra variar. mesmo com o sal corroendo minhas retinas, abro bem os olhos e enxergo o que deveria ser o sol. ah, é por alí! estou exausto mas não posso desistir. ah! o ar! e mais ondas. o maremoto é sério, é violento e perspicaz. ainda não acabou. uma bateria de ondas me sacode, me afunda. volto à superfície. respiro, soluço e volto a ser alvejado. sou engolido e cospido para longe. branco.
devo ter me agarrado a algum lugar seguro e adormecido por um tempo. estava fraco. agora, então, não tenho adjetivos para minha fadiga. o mar parece calmo e a praia mais limpa. o maremoto lavou as areias do meu litoral. levou embora muita coisa que já deveria ter sido esquecida. o som do mar me agrada, me canta uma melodia há muito esquecida. choro. permaneço deitado e agora observo o céu. azul, poucas nuvens. acho que finalmente tudo acabou. esboço um sorriso tímido que ganha coragem aos poucos. agora ele é audível, sonoro, gostoso. infantil. eu precisava deste maremoto para voltar a viver. enfrentar a grande tormenta para enfim sair vitorioso. devo aproveitar a calmaria. ela se foi, pra sempre.
mesmo não querendo me levantar, apoiei-me sobre meus cotovelos e estalei meu pescoço. num impulso, estava de pé, sentindo o vento em meu rosto. o bom vento vespertino! altivo, me despedi do mar, agora como um espelho aos meus pés. hesitei em agradecê-lo, mas o fiz. em silêncio.
finalmente encontro-me em mim, acordado, despido de ilusões e sentimentos platônicos. não quero criar expectativas, apesar de me sentir restaurado. não quero ser vítima de um outro desastre repentino. citando Pedro Juan Gutiérrez: "a expectativa destrói muitas coisas. porém aprender a escapar dela é uma arte". e assim eu sigo.

terça-feira, agosto 02, 2005

O abandono derradeiro

não quero nem perder tempo discorrendo sobre o que descobri ontem. volto a questionar a índole de certa pessoa. mostrou-se deprimente. adeus.

segunda-feira, agosto 01, 2005

Que venha algo de bom

ando meio chato esses dias. não consigo prestar atenção em ninguém, não quero saber de nada, não ando com muita motivação, energia ou vontade de falar sobre o que me leva a estar assim. prefiro me guardar. guardar aqui. aqui sou eu, com algumas visitas de pessoas que não me importo que vasculhem meu interior. a vontade é estar sozinho, em silêncio. em silêncio. em sonhos.
tem horas que nada me consola mais do que a música. aliás, isso ocorre com frequência. a música, pra mim, tem um efeito incrível, uma importância enorme na minha vida. eu respiro e transpiro música. agora eu não me sinto muito à vontade para ouví-la. no trabalho eu posso acabar incomodando alguém. assim como foi ontem. incomodei demais, eu acho. nos espulsaram do palco na segunda música, mas conseguimos insistir até a quinta, se não me engano. pessoas um pouco egoístas, idosas, amargas. deus queira que eu não fique assim. seria uma grande contradição levando em conta minha personalidade até meus 21 anos.
minha garganta está me matando. essa semana será de intensa recuperação. caso contrário, o fim de semana será uma desgraça. ah, que venha algo de bom dessa vez. não é pedir demais.

Do lado de lá

então, um dia, ela aparece. não sei se fiquei surpreso ou simplesmente animado. não sabia o que fazer, o que falar, nem sequer o que sentir. será que ela veio por mim? quem me responderia essa pergunta? ela? não tenho como perguntar algo assim. soaria pretensioso. eu tomo cuidado com isso. mas, bem, ela estava lá, na minha frente. demorei a entender que agora a coisa era tão simples que eu não poderia tentar complicá-la. mas como sempre, eu a compliquei. demorei, demorei, arrastei-a, demorei, demorei... mas acabou acontecendo alguma coisa de bom. um pouco estranho. eu não sei bem dizer como foi. eu não preciso descrever. o que eu senti foi ótimo, mas e do lado de lá? a recepção foi igual? eu achei que não. não entendi essa maldita brincadeira até agora. o que se ganha com isso eu não posso nem imaginar, mas sei o que se perde. eu perco mais. sempre.
é difícil entendê-la. ela é diferente de todas, imprevisível, surpreendentemente. não que isso seja uma vantagem, isto é apenas uma diferença. eu não ando gostando dessa diferença. eu posso estar pagando por alguns pecados cometidos. eu caio de um prédio de 30 andares, sozinho, numa rua deserta onde o som não incomoda um único ser. me arrasto, eu não morri. cheguei perto. uma voz me apoia, me incentiva a levantar, mas ela não me dá as forças que necessito. essa voz é estranha, não sinto certeza nela. e por isso tropeço em mim mesmo, tropeço nas minhas vontades, nas minhas decisões e indecisões. eu me perdi em algum beco e estou só. o que eu pergunto só eu posso responder. o som reverberiza e volta à minha cabeça, me entorpece e me faz esquecer de respirar por alguns minutos. é uma sensação única.
eu gostaria muito de saber a verdade. aliás, todos nós gostaríamos. não quero brincar de pique-esconde. eu era bom nisso quando era criança, mas eu só sabia me esconder, e não procurar. eu procuro e não te acho. e quando acho... você parece tão longe. o que se passa? PORRA! não assombre esse meu tempo. ainda estou fraco demais. não brinque. faça ou não faça. por favor.