Eis, mais uma vez, o trânsito caótico da chamada Cidade Maravilhosa. Maravilhoso! Calor, impaciência e stress reunidos dentro deste ônibus, pequeno demais para me conter dentro dele. As saídas de emergência me seduzem, sempre. Uma vontade louca de pegar esses martelinhos e estilhaçar janela por janela, assistir o espanto no rosto dos passageiros, todos com as mãos sobre os ouvidos gritando “olha esse moleque, tá doido, ô, ô, ô, rapaz!”, e eu nem ia ligar, porque se traficantes queimam os ônibus com pessoas dentro, porque eu não posso brincar com as janelinhas sem fazer mal a ninguém? Cidade Maravilhosa, ah!
De volta à realidade, garotão. Esqueça o mundo, esqueça o suor escorrendo pelas costas e molhando sua bunda. Esqueça, olhe ao seu redor e busque alguma razão para este dia existir. Uma televisão ligada dentro de uma loja exibe aquele famoso desenho animado, Cinderela, mas que contraste! Como se fosse um cinema ao ar livre, alguns meninos assistem ao filme sentados no canteiro da calçada, brilhando com poças de suor pelos corpos praticamente nus, perguntando a si mesmos se não seria uma miragem causada pelo calor. Estão fascinados. São crianças descobrindo a infância, finalmente, com seus cigarros empunhados, um reles brinquedo que solta fumaça ou um sinônimo de maturidade, prestam atenção, se empurram, riem e se divertem.
Eles não querem voltar à realidade. Isso mesmo, durante a próxima hora, esqueçam o mundo que lhes chuta no traseiro, esqueçam a falta de sorte e assistência. Vocês ainda são crianças e têm este direito. Levantem os braços e agradeçam o milagre oferecido pela Cidade Maravilhosa. São lágrimas nos meus olhos? Não, não, deve ser suor.
terça-feira, novembro 28, 2006
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