*este texto foi escrito para minha aula de Oficina de Texto, na PUC, e resolvi manter a formatação usada no original (mesmo porque, se mudasse, o texto perderia muito do seu sentido)*
É aquela velha história. A professora passa uma tarefa, eu escolho fazer uma crônica e, como em 90% das vezes, o tema é livre. Eu inevitavelmente já estou caindo no clichê de escrever sobre a própria vastidão de idéias que me vêm à cabeça, sobre como é difícil focar em nosso objetivo quando simplesmente não existe um. Minha meta é apenas escrever. Pior, escrever da minha maneira, que nem sempre é bem vista.
Já enjoei de discorrer sobre a árdua arte de perseguir uma temática. Não o farei de novo. Já o estou fazendo. Caindo em contradição, mais uma vez. Aposto que daqui sairá mais um texto que, por puro capricho do destino, deverá ser impresso e de certa forma imortalizado – sem merecer – em vez de ser amassado e largado numa lata de lixo.
Por falar nisso, um outro dia eu estava martelando umas teclas e fiz uma mistura de frases na tela do computador. Só faziam sentido para mim. Imprimi e reli com cuidado. Sorri, amassei e joguei no lixo. Na sexta-feira passada eu fiz o mesmo, mas escrevi a lápis num caderno. Foi durante uma aula e eu estava com sono, muito sono, e escrevi um monte de bobagens e palavrões, falei mal de um monte de gente e nem isso fez sumir a imagem da minha cama, ah, minha bela cama! quentinha e desarrumada, que rodava em minha cabeça, tão nítida que eu podia sentir seu peso, pronta para um mergulho como se fosse um lago cristalino. Cheguei em casa e dissequei essas palavras por um tempo. Eu só queria dormir, então arranquei o papel do caderno com um som rascante e o amassei com toda a força que ainda tinha nas mãos. Levantei a tampa da cesta de lixo e me deparei com uma folha embrulhada. Surgiu uma exclamação, e logo depois uma interrogação. Me abaixei e peguei a folha. Ao abri-la, lembrei do que havia escrito há dias atrás. Tanta coisa que eu julguei sequer ter merecido poluir uma folha tão branca, uma lasca de árvore, um pedaço de vida borrado por trivialidades. Os fatos tornaram-se desinteressantes, ultrapassados. Assim é a vida, na maioria das vezes. Me deu pena e raiva, ao mesmo tempo. Quis me machucar, mas estava cansado demais para isso. Dormi com as duas folhas nas mãos.
Eu tento evitar, mas é impossível. Começo a redigir um texto e tenho vontade de entortá-lo, de destruir a sua forma, de chamá-lo de monstro e feio e solitário e cretino e ouvir o que ele tem pra dizer depois disso tudo. Ele não se arrisca a dizer nada, é um fraco. Sabe que se abrir a boca ele vai direto pro lixo e nunca chegará a ser nada. É assim que as coisas funcionam sob o meu controle.
Já passou aquela fase da redação escolar. Ei, tantas linhas, titulozinho bonito, parágrafo com um dedinho de espaço da margem, blá, blá, blá e eu odiava isso tudo, mas acabava escrevendo porque não podia puxar a orelha da “tia” e dizer que isso é podre. Tá certo, as crianças têm que aprender a escrever corretamente, mas deveriam ser dados uns exercícios mais livres, onde elas pudessem sair rabiscando toda e qualquer palavra que viesse à tona e fossem incentivadas a ler mais. Eu nunca fui incentivado a ler. Na verdade, eu fui FORÇADO, um pequeno menino indefeso tendo de lidar com as palavras espinhentas de Machado de Assis, com os labirintos poéticos de Olavo Bilac e outros mais que a literatura brasileira adora enaltecer e puxar o saco. Tudo bem, eles deviam ser bons, aliás, passei a gostar de Machado de Assis depois da escola, quando pude lê-lo por livre e espontânea vontade, sem prazo de tempo, sem outros deveres e obrigações. Aí foi legal.
Aqui se vai mais um texto comum, mais palavras vomitadas por mim, mais estrago. Dessa vez, pelo menos, uso uma bela formatação, algo até certo ponto acadêmico. Sou o grande colecionador de linhas vermelhas do Word, de propósito mesmo. Ainda estou dando uma colher de sopa por usar letras maiúsculas. Normalmente eu as desprezo. Tão altivas, tão desiguais e opressoras. Pronto, hoje é o dia delas. Celebrem, dancem e bebam e rodem, mas não abusem. Por favor, me respeitem. Assim terão chances de ser poupadas mais vezes. É fácil, não faço muita revisão. É assim que as coisas funcionam sob o meu controle.
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